Dia da mentira


01-04-2020 às 00:30
O dia hoje seria para brincar e soltar algumas mentirinhas? 
Ou seria para dizer verdades em tons aceitáveis de brincadeiras? Daquelas que faltam coragem para serem ditas na lata?  No entanto, eu decidi aproveitar o ensejo para seguir contradizendo a data e expor algumas reflexões. 
A primeira delas é a de furar a bolha ou o ponto de felicidade absoluta que pintamos nas redes sociais e muitas vezes também  fora dela.
 Já parou para pensar como o tempo inteiro que destinamos ao que vamos postar ou compartilhar com os outros verbalmente é sempre: o belo, o bonito, o admirável, o orgulho, o sucesso, o que deu certo, o promissor? 
No discurso até colocamos como considerados os nossos medos, fracassos, angústias, dores, as partes "feias" que nos cabem. Mas na prática queremos sempre é esconder, negar, calar e fingir a inexistência de cada uma delas. Como se sentimentos ou situações classificadas como negativas, ruins, desejos imorais e por aí vai, fossem os extraterrestres na nossa bolha de perfeição, fantasia e beleza. 
Mas não são. Não se iluda! Eles estão todos presentes, sem exceção, nas nossas vidas e fazem parte da nossa normalidade negada ou dissimulada. 
Segundo, não há vida 100% resolvida e bem sucedida, todo mundo em alguma ou algumas áreas vive um caos, sofre, se sente frustrado, machucado, calejado, impotente, fracassado, muda de ideia, muda de rumo; e aí uma das verdades, isso é geral e não casos isolados, e está tudo bem. 
Terceiro, não pense que o mundo é esse comercial perfeito da família, do amor, da saúde, do sucesso, da intelectualidade, da especialidade, das amizades e tudo mais que equivocadamente tomamos como modelo a ser seguido a partir das redes e/ou fora delas. 
O implícito é: ninguém, absolutamente ninguém é feliz 24 horas por dia; isto é, minha foto, sua foto, nossas fotos são apenas recortes minuciosamente selecionados, filtrados e idealizados de algo muito, muito maior e cheio de problemas, inquietações, sofrimentos e movimentos, que é a nossa montanha-russa chamada vida. 
Por fim, a minha imagem acima me destaca no momento da postagem como ótima, mas na realidade do cotidiano eu tenho dores, preocupações, medos, receios, frustrações, bagunças, algumas inseguranças, manias que podem me autossabotar, expectativas quebradas, fracassos, defeitos externos e internos e que eu escolhendo o caminho de aceitá-los ou não, amá-los ou odiá-los,  continuarão parte de mim! 
Todos os dias é minha escolha ter ou não uma consciência leve e realista de que a imperfeição não mora ao lado, mas que começa em mim e faz parte de mim enxergar o nu e o cru de quem me constituo ou não. Escolhas.



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